sábado, janeiro 23, 2010

Limites de velocidade incitam a transgressão

A falta de critérios técnicos para estabelecer a velocidade adequada faz com que o ritmo imposto em muitos troços incentive os condutores a violar a lei


Mais de metade das estradas portu­guesas têm limi­tes de velocidade abaixo do aconselhável, levando ao descrédito das regras e à transgressão, garante uma investigadora da Universi­dade de Coimbra que está a estudar os limites adequa­dos a cada troço.


"Mais de metade dos tro­ços rodoviários em Portugal estão com limites de veloci­dade abaixo do que deviam É recorrente o limite de 50 km/hora em zonas onde não há casas nem outros confli­tos laterais", disse à Lusa Ana Bastos, com base em conclusões preliminares de vários estudos que a Facul­dade de Ciências e Tecnolo­gia da Universidade de Coimbra (FCTUC) tem des­envolvido.

A especialista em trans­portes e segurança rodoviá­rias, docente na FCTUC, fri­sou que a desadequação do limite de velocidade às ca­racterísticas da estrada "vio­la as naturais expectativas do condutor, que acaba por transgredir" e tem como efeito "o descrédito total" das regras de trânsito.

"O que se tem feito em Portugal, em estradas que atravessam localidades, é co­locar um semáforo de limi­te de velocidade. O efeito é instantâneo, mas a reacção do condutor imediatamen­te a seguir será aumentar de novo a velocidade", aler­ta Ana Bastos.

As situações "completa­mente desajustadas da rea­lidade" resultam de em Portugal "não existirem cri­térios técnicos para estabe­lecer os limites de veloci­dade", observou.

A investigadora falava à Lusa a propósito do projecto "Safespeed — Estraté­gias de Gestão deVelocida­de", que arrancou há um ano e visa criar um sistema que permita adaptar o limi­te de velocidade legal às ca­racterísticas da via, obrigan­do o condutor a respeitar esse limite, através de fer­ramentas de "coacção físi­ca e psicológica".

A definição dos critérios técnicos deverá estar con­cluída dentro de dois anos, coma finalização de um mo­delo informático "capaz de estimar, para cada situação, a velocidade expectável face às características da es­trada e do seu ambiente en­volvente".

Medidas de acalmia de tráfego são opção para o respeito da velocidade legal.

Para obrigar o condutor a respeitara velocidade legal estabelecida, induzindo-o a adoptar comportamentos compatíveis com o ambien­te rodoviário que atravessa, serão definidas "medidas de acalmia de tráfego".

Rotundas, gincanas, alte­ração de pavimento ou refor­ço da iluminação pública sãoalgumas das soluções, que actuam "quer fisicamente quer por coação psicológica sobre, o condutor, impedin­do-o de adoptar comporta­mentos desajustados à velo­cidade pretendida", refere a FCTUC.

O estudo, que tem o apoio da Autoridade Nacio­nal da Segurança Rodoviá­ria, abrange a zona Norte do país, nomeadamente Fama­licão, Guimarães, Braga e Felgueiras, mas o objectivo é que as conclusões sejam aplicadas em todo o país.

Além da FCTUC, parti­cipam no projecto a Facul­dade de Engenharia do Porto e a Universida­de do Minho, num total de oito investigadores.


in "Global" de 20.Jan.2010