A falta de critérios técnicos para estabelecer a velocidade adequada faz com que o ritmo imposto em muitos troços incentive os condutores a violar a lei
Mais de metade das estradas portuguesas têm limites de velocidade abaixo do aconselhável, levando ao descrédito das regras e à transgressão, garante uma investigadora da Universidade de Coimbra que está a estudar os limites adequados a cada troço.
"Mais de metade dos troços rodoviários em Portugal estão com limites de velocidade abaixo do que deviam É recorrente o limite de 50 km/hora em zonas onde não há casas nem outros conflitos laterais", disse à Lusa Ana Bastos, com base em conclusões preliminares de vários estudos que a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) tem desenvolvido.
A especialista em transportes e segurança rodoviárias, docente na FCTUC, frisou que a desadequação do limite de velocidade às características da estrada "viola as naturais expectativas do condutor, que acaba por transgredir" e tem como efeito "o descrédito total" das regras de trânsito.
"O que se tem feito em Portugal, em estradas que atravessam localidades, é colocar um semáforo de limite de velocidade. O efeito é instantâneo, mas a reacção do condutor imediatamente a seguir será aumentar de novo a velocidade", alerta Ana Bastos.
As situações "completamente desajustadas da realidade" resultam de em Portugal "não existirem critérios técnicos para estabelecer os limites de velocidade", observou.
A investigadora falava à Lusa a propósito do projecto "Safespeed — Estratégias de Gestão deVelocidade", que arrancou há um ano e visa criar um sistema que permita adaptar o limite de velocidade legal às características da via, obrigando o condutor a respeitar esse limite, através de ferramentas de "coacção física e psicológica".
A definição dos critérios técnicos deverá estar concluída dentro de dois anos, coma finalização de um modelo informático "capaz de estimar, para cada situação, a velocidade expectável face às características da estrada e do seu ambiente envolvente".
Medidas de acalmia de tráfego são opção para o respeito da velocidade legal.
Para obrigar o condutor a respeitara velocidade legal estabelecida, induzindo-o a adoptar comportamentos compatíveis com o ambiente rodoviário que atravessa, serão definidas "medidas de acalmia de tráfego".
Rotundas, gincanas, alteração de pavimento ou reforço da iluminação pública sãoalgumas das soluções, que actuam "quer fisicamente quer por coação psicológica sobre, o condutor, impedindo-o de adoptar comportamentos desajustados à velocidade pretendida", refere a FCTUC.
O estudo, que tem o apoio da Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária, abrange a zona Norte do país, nomeadamente Famalicão, Guimarães, Braga e Felgueiras, mas o objectivo é que as conclusões sejam aplicadas em todo o país.
Além da FCTUC, participam no projecto a Faculdade de Engenharia do Porto e a Universidade do Minho, num total de oito investigadores.